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24 de julho de 2014

Ocupação de terreno impede obras da Terreira da Tribo na Cidade Baixa

VIA ZERO HORA:

Famílias em situação de rua afirmam ter sido removidas de pontos turísticos da Capital no período da Copa

Barracos foram erguidos ao longo dos tapumes que ainda permanecem de pé na área da Terreira da Tribo
 
Barracos foram erguidos ao longo dos tapumes que ainda permanecem de pé na área da Terreira da Tribo Foto: Diego Vara / Agencia RBS
O sonho da "casa própria" do Ói Nóis Aqui Traveiz, um dos mais importantes grupos teatrais de Porto Alegre, poderá ser adiado mais uma vez. Com mais de um ano de atraso devido a problemas que incluem a necessidade de revisão do projeto, a obra da sede teria início na próxima semana, não fosse um outro impasse: a ocupação do terreno por famílias em situação de rua.

Com 35 anos de história, o Ói Nóis Aqui Traveiz revolucionou o teatro na Capital ao propor apresentações radicais e com interação com o público. Passou por várias sedes, entre elas a da Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa. Deslocado para a Zona Norte, o grupo se animou em 2012 com a possibilidade de voltar ao bairro com a previsão de construção do Centro de Experimentação e Pesquisa Cênica Terreira da Tribo, na esquina da Avenida Aureliano Figueiredo Pinto com a Rua João Alfredo.

Só que hoje o local está ocupado por moradores de rua. Vindos de pontos diferentes da Capital, eles partilham há cerca de três meses a área doada pela prefeitura ao Ói Nóis Aqui Traveiz. Enquanto o lote parecia não ter dono, aprochegaram-se. Usaram o banheiro, a única estrutura existente no local, improvisaram fogões para as refeições, aproveitaram a água disponível e montaram suas barracas — uma delas tem como parede o outdoor da obra que está por vir, com o prazo estampado: março de 2013.

Para resolver o mais novo entrave, o secretário municipal da Cultura, Roque Jacoby, se reúne nesta quarta-feira com a Associação dos Amigos da Terreira e representantes da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov). Há uma semana, em conversa com Zero Hora, Jacoby havia afirmado que a desocupação seria providenciada pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) — uma ação semelhante à realizada na área das obras do entorno do Estádio Beira-Rio, que não pode ser feita de uma semana para outra.
— Nosso trabalho é de sensibilização e construção conjunta, oferecemos nossos espaços de proteção e, se não for de interesse deles, buscamos fazer um trabalho com outras políticas públicas a fim de solucionar cada caso. Há um esgotamento, mas há tentativas. Importante: jamais, em hipótese nenhuma, removemos ou tiramos pessoas dos locais onde elas querem estar. Isso tem de ser espontâneo — afirma o presidente da Fasc, Marcelo Soares.

Lurdinha, uma das ocupantes, nunca havia ouvido falar do tal centro de experimentação. Deitada em uma cama improvisada sobre caixas às 11h30min da última quarta-feira, ela diz que gosta do local porque é seguro e acolhedor. Carmem, outra ocupante, concorda:
— Se acontece algo conosco, os vizinhos denunciam.
Vanderlei dos Santos não faz parte de nenhuma das 13 famílias que estão no local, mas tem um histórico semelhante ao delas: o de migração pela cidade. Talvez por isso, a notícia de uma nova mudança não assuste tanto:
— A corda sempre estoura na parte mais fraca — diz. E complementa: — Mas não sei mais para onde ir.

Para os atuadores do Ói Nóis Aqui Traveiz, esse é mais um capítulo da novela que já se estende por seis anos, desde que a prefeitura cedeu o espaço, em 2008.
— O terreno foi conquistado pela Terreira da Tribo, mas ainda não está sob nossos cuidados. A promessa ainda não se cumpriu — lamenta a integrante do grupo Paula Carvalho.
A nova sede da Terreira da Tribo terá salas de aula, biblioteca, sala de exposições e um teatro, que, por ser não ser um espaço convencional como o de outros teatros, tem capacidade variável conforme o espetáculo. Nem todos os espetáculos apresentados na nova sede terão entrada gratuita ao público. Segundo a presidente da Associação dos Amigos da Terreira, Tânia Farias, a justificativa para ser uma obra pública em terreno cedido pela prefeitura vem do fato de o trabalho do grupo teatral ser público, oferecer oficinas abertas e gratuitas e participar de trabalhos de formação de atuadores em bairros de Porto Alegre.
Como surgiu a ocupação
Algumas das famílias que vivem na ocupação da Cidade Baixa contam que o fogo as expulsou da Vila Chocolatão. Foram viver sob o Viaduto dos Açorianos, de onde teriam saído pouco antes da Copa, retirados por policiais militares. O local escolhido, um lote onde já deveria estar erguida a sede da tribo de atuadores, era cercado por tapumes. Praticamente escondidos, puderam "ir ficando" na área, dizem eles.
Os , ouvidos por Zero Hora, estão reunidos no Relatório da , grupo formado por representantes da Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, , Movimento Nacional da População de Rua, Ministério Público e Ouvidoria da Segurança Pública Estadual.
"Foram recebidos relatos de PMs agressores, conforme consta de dossiê do MP/RS, todos estes da área central de Porto Alegre. No que tange à Copa, foram relatados que a PM estava retirando os moradores de rua dos pontos turísticos, por meio de ameaças, porém deixando-os ficar em locais de pouca visibilidade, como terrenos cobertos por tapumes", diz o documento redigido pela Cedecondh.
De acordo com o major Francisco Lannes Vieira, que responde pelo 9º Batalhão de Polícia Militar (9ºBPM), a Brigada Militar não recebeu nem emitiu nenhuma ordem de remoção de pessoas em situação de rua.
— Houve algum fato? Deve ter acontecido, porque senão eles não denunciariam. Mas, se aconteceu, foi por conta e risco dos brigadianos que fizeram a ação. E à medida que isso chegar formalmente para a Brigada, nós vamos atrás. Vamos apurar forte. Até porque temos patrulha para atendimento a esse público em situação de vulnerabilidade, com curso e qualificação para lidar com isso — afirma o major.
Ícone teatral gaúcho
- O Oi Nois Aqui Traveiz nasceu em 1978, influenciado por grupos de teatro americanos como o Living Theater e o Open Theater, que apimentavam suas montagens com radicalismo político, nudez e provocação ao público.
- A primeira sede foi uma ex-boate, na Rua Ramiro Barcelos. Depois, o grupo se instalou na Terreira da Tribo em 1984, que era um casarão de dois andares na Rua José do Patrocínio. Foi despejado em 1999 pelos donos do terreno. Eles tiveram de se mudar para a Rua João Inácio, no bairro Navegantes.
- Em 2008, a prefeitura cedeu o terreno localizado na esquina da Rua João Alfredo com a Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto. Quatro anos depois, com projeto pronto, se esperava que a nova sede saísse finalmente do papel. No entanto, a expectativa não se confirmou.
- A Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov) apontou, em janeiro de 2014, que havia incompatibilidades entre o projeto arquitetônico e o plano de fundações. A planta do futuro centro foi refeita e reavaliada por órgãos públicos mesmo após o anúncio da empresa vencedora da licitação, a 5S Arquitetura e Design.
- , a Secretaria Municipal da Cultura informou que os entraves estavam resolvidos. Havia R$ 1,4 milhão, vindos do Ministério da Cultura, para fazer parte da obra. Para a conclusão, porém, ainda faltava R$ 1 milhão.