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27 de fevereiro de 2012

Convite abertura exposição Mariana Xavier



Convidamos todos para abertura da exposição de Mariana Xavier,
intitulada Mortos Vivos, dia 1º de março, às 19h, na Galeria Lunara.
A exposição permanece aberta à visitação até dia 18 de março.

Confira abaixo texto de Julia Rebouças, do Instituto Inhotim, sobre a mostra, que foi apresentada em Belo Horizonte, na Fundação Clóvis Salgado - Palácio das Artes.

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Por uns bons drink

Sendo os textos de exposição, em paredes ou catálogos, gêneros previsíveis e aborrecidos - para não dizer conservadores -, certamente Mortos Vivos, de Mariana Xavier, merecia palavras mais descontraídas. Como parte de um suposto sistema de alta cultura, um texto como este deveria trazer referências teóricas elaboradas,que fizessem sentido ou não. Certa acidez e pitadas de ambiguidades seriam muito bem vindas. Tal texto não só poderia como deveria associar a obra da artista a outros nomes, forjando junto com eles novos paradigmas. Tudo dentro da mais perfeita ordem, exceto pelo fato de que o trabalho de Mariana Xavier não precisa de nada disso.

Nesta mostra, composta por vídeos, filme e uma instalação fotográfica, a artista apresenta com
perspicácia um conjunto de obras que se relaciona com o vocabulário cotidiano da televisão, das
revistas de entretenimento e, sobretudo, com o enorme nicho dedicado às celebridades, anônimas ou não, que ganha cada vez mais espaço na internet. O aparente amadorismo que traz na linguagem e na formalização de suas obras ecoa justamente as tantas imagens produzidas por personagens que insistem em fazer de sua vida privada tema de apelo público.

Em um de seus vídeos, a artista é vista descansando num cenário cafonamente desolador. Nada
numa piscina vazia, brilha sob o sol escaldante e se refresca com um drink cujo enfeite desmorona antes mesmo de a cena acabar. O letreiro que se desenha à nossa frente festeja: como é bom ser rica! Basta um breve contato com youtubes, twitters e facebooks para entender que a interlocução da artista vem desse universo, de seus personagens, de padrões e desejos de consumo que se esvaziam antes mesmo de serem alcançados.

Mariana faz parte de uma novíssima geração de artistas gaúchos que elegeu para sua produção o
suporte do vídeo e a irreverência da linguagem. Não abre mão, no entanto, de uma certa nostalgia na construção de suas ideias e imagens, formalizada no uso de dispositivos fílmicos, filtros, cores e texturas hoje já associados ao maquinário analógico dos super-8 e das películas.

O trabalho de Mariana, particularmente, carrega o mérito e a segurança daqueles que são capazes de rir de si mesmos, de desconfiar de suas próprias escolhas. Para quem faz do gosto matéria de distinção, o que vemos aqui talvez faça embaralhar as ideias. Ícones do popularesco mundo das celebridades, famosos lado B, proto-divas do universo pop se acotovelam e configuram registros de sofisticação crítica. O que percebemos, depois do riso, é que essas relações são em grande medida pautadas por requintes de autoritarismo, que se escondem sob a máscara da sedução.

Na academia de ginástica, que também poderia ser uma discoteca, a histeria das vozes instrui a
nunca parar, a ir mais, mais, mais longe. É quando seguimos e deparamos com uma boca, aprisionada num pequeno aparelho de televisão, que usa todos os artifícios para convencer-nos a tirá-la de lá. Promete até o seu silêncio de boca falante, o que, sabemos, há de ser falso. Mas tudo bem. Aqui não há verdades, e a sinceridade já morreu. Acabou-se o mau gosto e restou o que é arte e diversão.

Júlia Rebouças
Crítica de arte e curadora do Instituto Inhotim